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Então, e o rio?

Sara Martins
Opinião \ quinta-feira, julho 26, 2018
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Até prova em contrário não há uma correlação directa entre investir na preservação/promoção das termas, enquanto património natural, e a construção do polidesportivo.

Na última assembleia municipal o presidente da Câmara Municipal de Guimarães (CMG), Domingos Bragança, afirmou repetidamente que “as termas são o património natural mais importante das Taipas”. Então e o rio Ave, Sr. presidente? Ironicamente, e como se a realidade o desmentisse, à sua frente repousava um jarro com água que a Vimágua capta no rio Ave, em Caldas das Taipas.

A afirmação do presidente da câmara foi proferida como justificação de uma injecção de capital público na cooperativa Turitermas, algo que tem sido, e continuará a ser, comum uma vez que os resultados da cooperativa são deficitários.

A título informativo, estava em discussão um subsídio à exploração de cerca de 200 mil euros para 6 meses (Julho a Dezembro de 2018). A natureza deste subsídio prevê que a sua atribuição seja contínua, pelo que, nos próximos anos iremos assistir à transferência de muitas centenas de milhares de euros para a Turitermas.

Há porém um desfasamento entre a realidade e a justificação de Domingos Bragança. Na mesma intervenção disse o senhor presidente que o subsídio ali em aprovação, “destinava-se a comparticipar o investimento no polidesportivo, uma obra que deveria ter sido suportada pela câmara”.

Até prova em contrário não há uma correlação directa entre investir na preservação/promoção das termas, enquanto património natural, e a construção do polidesportivo. Desculpem-me se não acredito que algum aquista vá escolher as termas das Taipas por causa do polidesportivo.

Porque não é de termas que estamos a falar, importa perceber o negócio do polidesportivo. Em números, o polidesportivo custou 1,6 milhões de euros. A sua manutenção anual é de cerca de 140 mil euros e a sua rentabilidade rondará os 20 mil euros. Resulta daqui um prejuízo de cerca de 120 mil euros/ano para nós contribuintes pagarmos.

A verdade é que a Turitermas fez um polidesportivo megalómano sem ter dinheiro ou financiamento para tal. Fê-lo mesmo com resultados anuais negativos e sabendo por isso, que não teria dinheiro para a sua manutenção. Qualquer pessoa minimamente consciente e responsável achará esta gestão desastrosa, ainda para mais tendo em conta que o país estava a sair de uma bancarrota. Já o presidente da Câmara assume que com este subsídio estão “a premiar o mérito da gestão da Turitermas!”

Não tenho a presunção de aferir se o rio é ou não mais importante que as termas, enquanto património natural. Na verdade nós taipenses, temos a sorte de ter um capital natural elevado. O rio, as águas termais, o parque arbóreo complementam-se e dão à nossa vila características únicas. Devem por isso ser cuidados, preservados e potenciados em igual medida.

Fossem os gestores do nosso património competentes e não estaríamos aqui a discutir prioridades, já que não teríamos chegado ao estado de degradação a que chegamos.

Mas chegamos e, considerando a realidade do nosso país, das nossas finanças públicas,  e das contínuas más políticas adoptadas, é necessário optar. Eu como taipense preferiria ver o dinheiro dos meus impostos investido na recuperação do rio, onde ainda jorram esgotos,  uma vez que é o recurso que mais pessoas beneficia, já que fornece a água que todos usamos nas nossas casas.

Mas a realidade é que o rio não tem capital político e por isso não merece investimento público.  Fora do período de eleições, única altura em que os políticos se lembram do rio e se desdobram em promessas, o rio corre ignorado e sujo. Não dá para trocar votos por empregos no rio, e por isso o rio definha enquanto florescem polidesportivos.